
Adio o momento de escrever. Escrevo dentro de mim (pensamentos às vezes escrevem). As palavras no papel precisam esperar essa coisa qualquer germinar primeiro aqui dentro, minha terra úmida de palavras.
A palavra é uma pedra. É duro chegar ao âmago do sentido, entender o que ela precisa dizer, criar. Não é estranho que a palavra emocione? A palavra lavra imagens infinitas. A palavra é ausência incapaz de silêncio.
A palavra me angustia, seduz e espanta, todos os dias. Talvez pareça um exagero, mas a escrita é anterior a tudo. Dessas paixões pelas quais somos capazes de morrer, mas que nos impulsionam à vida. É esse talhar, esse ofício, essa loucura que me mantém viva.

Pegue as lagartas com uma espátula
abrigue-as em um pote
repleto de furinhos
Junto da planta hospedeira
*
Alimente e tire as fezes
Regularmente
(a frequência pode chegar a duas vezes ao dia
nos estágios finais)
até que elas entrem no casulo e
não necessitem mais de cuidados.
Depois de sete dias
elas se tornarão borboletas ou mariposas
adultas.
É importante libertá-las
ao final do trabalho.
*
Largue a espátula
Pegue um bisturi e
com parcimônia
disseque a vida.
*
Disseque cada partícula, cada beleza ululante e incestuosa da natureza, cada horror e êxtase do cotidiano.
Espere crescer.